A região Sul do Brasil é a que mais sofre com baixas temperaturas que podem ocasionar a cristalização do óleo diesel e, consequentemente, o entupimento de filtros. Cidades como Urupema, em Santa Catarina, são conhecidas pelas temperaturas extremas e o fenômeno do congelamento. Para mitigar esse problema, é comum o uso do “diesel de inverno” ou diesel aditivado, que possui propriedades que o tornam mais resistente à cristalização em baixas temperaturas.
Cristalização do Diesel e Entupimento de Filtros
A cristalização do diesel, também conhecida como “parafinação” ou “congelamento”, ocorre quando a temperatura ambiente cai a níveis em que as parafinas presentes no combustível começam a se solidificar. Isso forma cristais que podem obstruir o filtro de combustível, impedindo o fluxo adequado do diesel para o motor e causando falhas na partida ou perda de potência.
Para evitar esses problemas, a indústria de combustíveis desenvolve e comercializa o diesel de inverno, que possui aditivos que alteram o ponto de névoa (temperatura em que os primeiros cristais começam a se formar) e o ponto de fluidez (temperatura em que o combustível perde a capacidade de fluir).
Diferenças entre Diesel Mineral e Biodiesel (Animal e Vegetal)
O diesel que abastecemos hoje no Brasil é uma mistura de diesel mineral (derivado do petróleo) com uma porcentagem de biodiesel. As principais diferenças entre eles estão na origem, composição e algumas propriedades:
Diesel Mineral (Petrodiesel)
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- Origem: Derivado do petróleo bruto, um combustível fóssil.
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- Composição: Principalmente hidrocarbonetos de cadeia longa.
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- Características:
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- Possui um ponto de cristalização que pode ser problemático em baixas temperaturas, necessitando de aditivos específicos para o inverno.
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- Emite mais gases poluentes, incluindo enxofre e partículas, em comparação com o biodiesel. O diesel S10, com baixo teor de enxofre, visa reduzir essas emissões.
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- Mais estável para armazenamento a longo prazo.
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- Características:
Biodiesel
O biodiesel é um combustível renovável e biodegradável, produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais por meio de um processo chamado transesterificação.
1. Biodiesel Vegetal
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- Origem: Produzido a partir de óleos vegetais, como óleo de soja, mamona, girassol, dendê, entre outros. No Brasil, o óleo de soja é a principal matéria-prima.
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- Composição: Alquil ésteres de ácidos graxos.
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- Características:
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- Menor emissão de poluentes: Reduz significativamente a emissão de gases de efeito estufa, monóxido de carbono, dióxido de enxofre e hidrocarbonetos em comparação com o diesel mineral.
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- Renovável e biodegradável: Contribui para a sustentabilidade e é menos tóxico em caso de derramamento.
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- Maior lubricidade: Melhora a lubrificação do sistema de injeção do motor, prolongando a vida útil dos componentes.
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- Ponto de fulgor mais alto: Torna-o mais seguro para transporte e armazenamento.
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- Ponto de névoa e fluidez: Geralmente, possui um ponto de névoa mais alto que o diesel mineral, o que significa que pode cristalizar em temperaturas menos frias. Por exemplo, o biodiesel de soja pode ter seu ponto de névoa em 3°C e o ponto de entupimento em -2°C. Isso exige cuidados adicionais em regiões frias.
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- Menor estabilidade à oxidação: Pode se degradar mais rapidamente em comparação com o diesel mineral, o que pode ser um desafio para o armazenamento prolongado.
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- Características:
2. Biodiesel Animal
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- Origem: Produzido a partir de gorduras animais, como sebo bovino, gordura de frango, etc. No Brasil, o sebo bovino é uma importante fonte.
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- Composição: Semelhante ao biodiesel vegetal (alquil ésteres de ácidos graxos), mas com características específicas das gorduras animais.
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- Características:
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- Compartilha muitas das vantagens ambientais do biodiesel vegetal, como a redução de emissões e ser renovável.
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- Piores propriedades a frio: As gorduras animais tendem a ter um ponto de cristalização ainda mais elevado do que os óleos vegetais, o que as torna mais suscetíveis à cristalização em temperaturas frias. Isso limita seu uso em condições de baixa temperatura.
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- Maior viscosidade: Pode apresentar maior viscosidade em comparação com o biodiesel vegetal.
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- O uso de resíduos animais para a produção de biodiesel é uma forma interessante de transformar um subproduto em energia, agregando valor e contribuindo para a economia circular.
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- Características:
Caso curioso:
Participamos de um dia de campo na Cooperativa Coamo e registramos tudo! No balcão do nosso estande, tínhamos amostras de biodiesel 100% animal e vegetal. Pela manhã, com a queda da temperatura, observamos um fenômeno interessante: o biodiesel de origem animal começou a cristalizar e, em seguida, solidificar totalmente. No entanto, à medida que o dia avançava e a temperatura subia, o biodiesel voltou ao seu estado líquido original. Confira as imagens e veja como foi!




Imagens de ocorrência em uma fazenda no estado do Paraná:
“Realizamos uma análise visual simplificada e, considerando o relato do proprietário da fazenda sobre a temperatura de cerca de 8 ºC naquele dia, conclui-se que o diesel em questão contém adição de biodiesel de origem animal. Isso descarta a cristalização da parafina típica do diesel mineral.“


Em resumo, enquanto o diesel mineral é o combustível base, o biodiesel (seja vegetal ou animal) é uma alternativa mais sustentável, com benefícios ambientais e de lubricidade, mas que exige atenção redobrada em regiões frias devido ao seu maior potencial de cristalização. Por isso, a formulação do diesel comercializado no Brasil leva em conta essas propriedades para garantir o bom funcionamento dos veículos em diferentes condições climáticas.
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